segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Donnie Darko e o vínculo do cinema com a fantasmagoria

No último sábado, na sessão de novembro do Ciência em Foco, foi exibido o cultuado filme Donnie Darko (2001), de Richard Kelly. Quem esteve presente para conversar com o público após a exibição foi o professor Erick Felinto, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UERJ e diretor científico da ABCIBER (Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura). A associação do filme ao gênero fantástico, com seus elementos de ficção-científica e horror, ao mesmo tempo em que se apresenta como híbrido de outros diversos gêneros cinematográficos, serviu de ponto de partida para Erick analisar o cinema de gênero,  abrindo um bate-papo cinéfilo e descontraído com um olhar sobre diversos momentos da história do cinema.

Para o professor, Donnie Darko pode ser considerado de início um filme estranho, que aparenta ser um filme hollywoodiano enquanto, na verdade, parece deslocar a cada momento as convenções e nossas expectativas, gerando estranheza e perplexidade. As tentativas de se entender a narrativa tornam-se secundárias diante da experiência que o filme oferece em termos de sensações associadas ao universo do fantástico, que nos fazem pensar. Este universo do estranho, explorado pelo cinema de gênero, é geralmente desqualificado pela crítica quando o opõe à sofisticação e à alta cultura de um cinema de arte, por exemplo. O fato do filme também ter se tornado um cult movie, adorado pelos cinéfilos, é uma prova de sua indefinição, de seu lugar híbrido em meio ao ambiente cultural acostumado com as definições.

Apresentando tramas paralelas e enfatizando paradoxos, Donnie Darko é um filme que rejeita a noção de interpretação. O que gera, portanto, seu fascínio? De acordo com Erick, apoiado no teórico Hans Ulrich Gumbrecht, o interessante do filme seria a criação de determinados "climas", as chamadas ambiências, diante das quais o que importa é a evocação de situações que provocam diversas sensações. Este cinema de ambiências, responsável pela criação de memórias que marcam o espectador, dialoga com questões que animavam também artistas das vanguardas do início do século XX, como o surrealismo, aliadas à contemporânea estética do videoclipe. No entanto, o que de fato torna o filme tão fascinante é sua forma de se relacionar com a noção de fantasmagoria, a partir da enigmática figura do coelho.

De acordo com Erick, um fantasma não é nada mais que uma imagem, e este elemento ilusório, perturbador, é capaz de estabelecer um vínculo com aquilo que se encontra na gênese do próprio cinema. Toda a história do cinema, desde sua origem, é marcada pela relação com a fantasmagoria, uma vez que se trata de uma arte de produzir imagens, ilusões, fantasmas. Não é à toa que uma tecnologia precursora do cinema foi a "fantasmagoria", utilizada em espetáculos que projetavam sombras e efeitos ilusórios. Em seus primórdios, o cinema investiu na produção de fantasmas, efeitos, ilusões, como nos filmes de Georges Méliès e também com os filmes de horror do expressionismo alemão. Todos estes momentos marcam a relação histórica do cinema com aquilo que lhe é próprio, a dimensão da fantasmagoria e do imaginário, da qual a história mais tradicional do cinema tentou se afastar. Donnie Darko se apresenta como uma parábola da experiẽncia cinematográfica nesta dimensão fantasmagórica, resgatando aquilo que nos toca em níveis mais fundamentais da experiência.

Em nossa próxima sessão - a última de 2011 -, exibiremos o filme Profissão: repórter (The passenger - 1975), de Michelangelo Antonioni. Teremos a honra de receber, como nosso convidado do mês, o professor da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO/UFRJ) Paulo Domenech Oneto, doutor em Filosofia pela Univ. de Nice, França, e em Literatura Comparada pela Univ. da Georgia, E.U.A., com a palestra A relação sujeito-objeto. Anotem na agenda, divulguem e sigam acompanhando o blog para maiores detalhes. Até lá!

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